Eu sou professor. Não faz muito tempo, mas sou. Dou aula para adolescentes. Para mim a escola nunca foi um romance. Sei o que posso fazer, e até onde posso ir. Sei das limitações. Nunca romantizei a relação aluno – professor. Nunca quis ser santo padroeiro de ninguém. Sou um intelectual, e gosto muito de dividir e aprender com quem se interessa. No cinema, a questão, porém, é outra: o professor é sempre uma figura desprendida do mundo, com um grande amor pela profissão, onde sua relação com os alunos se transforma em missão de fé. “Entre os muros da escola”, filme do diretor Laurent Cantet e ganhador da palma de ouro no festival de Cannes ano passado, retrata a escola nua, quase visceral. François Bégaudeau, autor do livro que deu origem ao longa, interpreta a si mesmo no filme na pele do professor Marin, que claramente tem dificuldades em lidar com os adolescentes que encara todos os dias. Talvez, esta seja a maior mágica do filme: Marin é um professor ruim. Ele está longe de ser brilhante, articulado, ou mesmo, esperto. Os alunos, em compensação, são o retrato da juventude. Está tudo presente: as roupas, celulares, o sexo, a revolta, o preconceito. Os adolescentes são da periferia de Paris, mas podiam ser da periferia de São Paulo. A escola também tornou-se um não-lugar: ao mesmo tempo que não possui identidade, é identificável em toda parte.
Em algumas resenhas, li que o filme era uma “visão francesa sobre o choque de civilizações”, “um filme sobre a tolerância”: tudo blá blá blá, conversa que escamoteia a realidade. Pretensão de intelectualizar demais uma relação simples, cotidiana e cruel. “Entre os muros da escola” é um filme sobre a realidade de uma escola qualquer, de um professor qualquer, e de um aluno qualquer. Não existem heróis. Não existem bandidos. O que existe é apenas a crueza cinza chumbo do mundo: seus conflitos, suas idiossincrasias, e, porque não, sua beleza.
E o melhor está no final: a sala de aula vazia vale por mais de mil palavras.
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ResponderExcluirExistem muitos muros na escola, muito além dos muros de concreto. Existem muros que não estão ao alcance da visão, mas sim da percepção. Todo professor deve assistir a esse filme e refletir um pouco sobre essas questões, aliás não só professores, indivíduos em geral.
ResponderExcluirPatrícia da Paz