A Guerra Segundo Dalí
Por Renato Alarcão
Tenho algumas estratégias para identificar uma pessoa cafona. Se ela possui na parede da sala um quadro com cavalos, este é um sinal infalível. Gostar de Dali é outro deslize para o terreno viscoso e multicolorido da breguice. Nunca encontrei exceções a estas duas regrinhas básicas. Para mim Dali reunia em si qualidades também de fanfarrão e boçal. Prova disso são os depoimentos e frases que soltou ao léu. Era mesmo um sujeito que deveria ter conhecido o filósofo Romário e com ele ter aprendido a colocar um sapato na boca toda vez que se sentisse tentado a dar um depoimento. Em 1971 Dali proferiu a pérola abaixo, num sinal inequívoco de que, além dos bigodes de bagre, possuía os miolos e também a boca enorme daquele horroroso peixe.
Entrevistador: Atualmente o senhor é a única pessoa no mundo a favor da guerra do Vietnã...
Dali, o bagre, responde: Eu não sou somente a favor da guerra do Vietnã, mas a favor de todas as guerras. A guerra é uma empresa saudável, gloriosa. Faz com que os homens sonhem, traz à tona paixões recalcadas, é uma época de esperanças e grandes ilusões. Com isso, com sua intensidade, faz com que a arte, a ciência e as idéias se desenvolvam. Do ponto de vista erótico, as guerras desencadeiam impulsos reprimidos e estimulam a sensibilidade das pessoas, e, veja, se houvesse paz o tempo inteiro, nós seríamos vítimas de uma mortal monotonia.
-TC-
Nenhum comentário:
Postar um comentário