7/05/2009

Michael Jackson. Queimando como fogos de artifício.

Por: Tom Arsênio


Por que o espanto? Michael Jackson deveria morrer!!! É o mínimo preço que se paga por ser imortal. MJ não morreu por problemas de saúde, pela imprensa marrom ou seu sádico pai – isto é irrelevante. MJ morreu porque a existência do Gênio é insuportável. Não é coincidência que entre para o deslumbrante céu daqueles que morreram cedo demais por não agüentarem o peso de seu próprio brilhantismo. Não importa em que aspecto sua existência seja máxima, o Gênio sempre tenta se derivar em algum sentido seja bebendo, seja cheirando, seja transando, fugindo sempre de si mesmo, pois seu espírito não agüenta o tédio de estar dentro do mesmo corpo.

MJ morreu porque é o preço que se paga por destruir a Cultura de seu tempo. Destes, talvez o único que se mantém em pé aos trancos e barrancos seja Dylan. De resto, Presley, Joplin, Hendrix, Lennon, Kobain, Monroe e Chaplin não duraram muito.

MJ era o Gênio sem rosto. Nunca foi definido, pois não tinha uma especialidade, era a arte fantástica, o artista completo, o canto de um passarinho e a dança firme e perfeita, a produção irretocável, e a harmonia correta. A melodia era rápida demais para conseguir sintetizar tudo isto.

Para MJ não importava se era Branco ou Negro. Desde que nasceu, naquela família simples em Gary, com trocentos irmãos, uma mãe doce e um pai frustrado. MJ era assustador, ninguém era capaz de dizer o que diabos era aquele garoto fazendo o que Sinatra era incapaz. Que voz era aquela que Brown não tinha? Na sua maioridade Michael mudou o Soul, mudou a Disco, mudou o Rock e criou o Pop mesmo cantando ‘A Capella’.

Sua obra foi pontual. Seus álbuns solo foram curtos e grossos, sua produção crescia fora disso e lá onde estava seu sucesso, sua genialidade ultrapassava o Estéreo e atacava o Multimídia. Mesmo assim, se sua carreira foi decadente como dizem os críticos (que só prestam para contradizer o original), seu pior álbum ainda supera o melhor que o príncipe copião Timberlake fez. Invencível.

Sua personalidade não interessa, MJ é o Gênio da Inocência. Visto que Freud não era capaz de passar um dia sequer sem cheirar a calcinha da irmã, Nietszche era um doido varrido atrás da saia da prima, Van Gogh arrancou uma orelha para entregar ao seu amor e Kant só escreveu aquelas coisas todas porque era um muleque que nasceu e morreu num vilarejo sem nunca ter visto uma boceta na vida.

MJ foi perigoso. Rompeu com a supremacia branca na indústria cultural, não dava entrevistas, não suportava empresários e patrocínios e só se importava com os fãs. Cantava em nome do respeito, em direção à África, da infância que não teve, da sensibilidade à natureza e aos excluídos.

MJ foi cedo demais e este é o dever dos Gênios, já que vivem como os fogos de artifício - Morrem cedo e seus momentos são eternos. Como todos os outros citados, seu corpo não suportou a ambição de alcançar o que alcançou e quis mais, porém o quis em desespero. MJ deixa as pistas de dança sangrando. É isto.

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