8/18/2009

Imortal Sarney. Para os diabos! É o Marx, po!


Estudo política. É o que que tenho feito profissionalmente já há alguns anos. Tento estudar, e tento ensinar... aliás, estou tentando tentar ensinar. Mas é assim. Como já disse aqui uma vez. Leio, escrevo e falo. Só. Não sei fazer mais muita coisa. Me restou as Ciências Humanas e seu sub-item, a Ciência Política. Que de Ciência, em seu sentido estrito, tem pouca coisa. Não passa de tentativa-erro e erro. ou quase. Interpretação e quiromancia.

E num dia desses, tomei uma decisão. Assim mesmo. De bobeira. Comecei a reler algumas leituras anteriores de teoria, em especial, uma literatura de cunho radical, voltada a crítica do capitalismo, da democracia e do Estado. Comecei pelo velho barbudo Marx e fui então rever o “18 de Brumário de Luiz Bonaparte”, texto em que o autor, através de uma perspectiva historiográfica baseada em uma análise dos atores e do contexto, busca resumir uma análise precisa a respeito do resultado das revoluções e embates que ocorreram em 1848 na França.

No meio do texto, como que de sopetão, algo me pareceu familiar. De repente, lembrei de Sarney e sua corja. Lembrei do PMDB, lembrei do proselitismo. Lembrei de como é que no Brasil, a esfera pública é tratada como se fosse propriedade privada. E quase que num sonho, surgiram uns comichões a cerca do processo político-democrático no Brasil, em sua maneira convexa, é uma caixa de pandora: impossível de ser aberta por qualquer uma das teorias e correntes político-filosóficas disponíveis, nem mesmo o marxismo. Resolvi, de teimoso, postá-lo aqui. Não por sua qualidade ou originalidade. Mas sim por..., porque mesmo?

Mas como? Como??? Como um texto sobre Napoleão III podia ter passagens que me remetessem diretamente para o agora, para o Brasil, para Brasília, em 2009? Resolvi então separar duas passagens para buscar alguma resposta sobre o agora. E, mesmo com medo da redundância e da obviedade, vou colocá-las aqui.


Antes só?? Não... sempre bem acompanhado


Marx salienta uma particularidade na história humana: o aspecto inexorável do passado, explicitado nessa passagem: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim, sob aquelas com que defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime, como um pesadelo o cérebro dos vivos”. E aqui, me peguei pensando em Sarney. Vejam só: Sarney foi presidente acidental do Brasil entre os anos de 1985 a 1990. Seu partido era um reformado PMDB, advindo das entranhas de um MDB que era o único partido aceito enquanto oposição durante a ditadura militar. Na época, Jânio Quadros era a figura proeminente: democrata aguerrido que a pouco havia comandado a campanha pelas eleições diretas. O PMDB neste contexto era respeitado, e em suas fileiras, contava com as principais forças políticas do Brasil. Porém, a estrutura político administrativa do país pós-1982 - e especialmente pós-1988 com a proclamação da Constituição da redemocratização - criou um sistema paradoxal, onde as forças políticas tendem sempre a um perene processo de inversão de valores. O centrão é o novo (D)eus. E aqui, cabe de tudo no balaio, em que os gatos já saíram há tempo, com medo do rebostálio. Sarney estava lá, desde o princípio. Ajudou a moldar a identidade fisiológica do PMDB como “O” partido de centro. Sendo assim, tornou-se a puta mais badalada da zona, o fiel da balança. Através de seu tamanho incomensurável, e de seus tentáculos (testículos?), tornou-se um mastodonte. E através da troca de favores, se espraiou.

E na história da (des)consolidação do processo democrático brasileiro, PMDB e Sarney fazem sua história. Se o peso dos mortos está sobre os ombros de Sarney, é porque estes na verdade sustentam o circo e ornam o picadeiro. E, assim, os palhaços fazem nossa história, de acordo com seu contexto, nem mais, nem menos.


A farsa da Tragédia


Marx, na sequência, nos dá outra dica. Para o barbudo, os “fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. E aqui, a piada torna-se quase óbvia. Mas por mais engraçado que pareça, devemos virar o autor do avesso: Sarney - nosso Napoleão III do coronelismo tupi - apareceu pela primeira vez como farsa, e agora como tragédia. Sarney não foi eleito em 1984. Subiu aos palcos do poder pelo ocaso da morte súbita de Tancredo, às vésperas da posse. Com seu bigode espesso, agarrou a oportunidade com fervor. Dalí, fez o trampolim, vestiu as sapatilhas e bailou. Consolidou um poder feudal no norte do país. Como no paraíso, fez-se a luz e as trevas. O Alpha e o Omega. Criou dinastia.

Mas agora, seu papel enquanto tragédia se consolida em um réquiem fajuto. Ver Fernando Collor, Lula e Sarney lado a lado, tem algo trágico. Um certo humor, uma certa lágrima. Mas não. Não as minhas.

Mas que é isso? Hoje, por acaso, não foi o próprio Sarney quem disse que não deve explicação alguma de nada? Ah! O início é o fim, que é o início. Eterno Retorno.

F. Nietzsche?

Talvez. Ou só ele?

Mesmo nas frases soltas e no anacronismo, o velho alemão acerta. Não com a resposta, mas sim, com o método.

Um comentário:

  1. há muito mais atualidade em Marx do na maioria dos teoricos e comentaristas da atualidade. Para mim ler esse barbudo é ao mesmo tempo enxergar melhor como ter uma sensação incomoda de fazer nada

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