11/01/2009

A Uniban, a mini saia e os moralistas

Eu evito dar trela para debates acalorados que bombam via Youtube e noticialecos de tv, mas foi impossível não associar o que aconteceu no dia 30/10 último, como outras tantas questões importantes. O ensino no Brasil está falido. Fato. Triste e incontestável. E a cada dia creio que seja uma situação irreversível. Por mais que eu tenha uma visão quase conspiratória sobre (a de achar que isso serve a alguém e alguma coisa) o xinga xinga da Uniban só demonstra a lama educacional e pior, o estágio cultural de atraso que muitos estão sendo formados.

O que se mostrou nos vídeos não foi apenas o julgamento moral, foi a carnavalização do escárnio, da baixaria, do vulgar não na pessoa da garota em questão, mas do nível educacional superior. A Universidade (aqui falo de uma forma bem genérica mesmo) em muitos cursos tornou-se um rolê, uma balada, um celeiro propício para retardados, onde quem paga consegue um diploma. O déficit cultural é tétrico ao chegar na graduação e parece piorar com o correr dos anos. Essa extensão do colegial privilegia um ambiente onde o campo das idéias seja deixado de lado em contraponto a cursos tecnicistas de inclusão no mercado de trabalho. O macaco faz e não constesta é assim que sempre foi e assim que será.

Pior que as coisas me parecem embricadas numa percepção muito machista e atrasada. Quando dava aula me peguei pensando sobre a existência da “periguete”. Da garota do bairro, sexualmente ativa e decidida, que é boa para liberar as necessidades primais dos rapazes (e dela também), mas não é moralmente boa para se namorar segundo o que meus próprios alunos falavam. Trazendo isso na perspectiva do mundo do consumo e do capital, a profissão mais antiga do mundo, sempre foi hostilizada e perseguida, taxada de desviante e desvirtuante, mas sempre esteve aí. Os cruzados dos bons costumes sempre perseguiram essas mulheres sem nunca vencê-las. Elas estiveram na cama de estadistas, de papas, pastores, de maridos, de quem quiser que pagasse. Como se no mundo as ditas “opções” fossem reais e para todos. Como se tudo fosse simples como pegar um “jornal amarelinho” na segunda feira, 5 da manhã e esperar uma fila de 500 nomes para tentar uma vaga de emprego. Mais deprê ainda quando o discurso é introjetado pelas próprias mulheres. Que muitas vezes conclamam uma “unidade” de classe ou categoria, que não existe. Que fazem com que atirem contra o próprio pé. Não conseguem perceber que estão sempre em posição desfavorável, seja no mercado ou na vida. E que tal atitude só mantem as coisas como elas estão.

O que eu acho curioso é que o molde “exemplar” apresentado pela "cultura" vigente, é a mulher bonita, sexualmente atraente. De uma deusa do sexo que se prostre a um mundo privado de um marido provedor. Isso está nas novelas, nos programas de fofoca, nos sonhos de tantas que copiam cortes de cabelo de revista, e roupas de novela.

A garota em questão é o protótipo disso. E na verdade não espero grandes articulações dela, se de um lado a horda dos que ofenderam representam um déficit cultural alarmante, ela também representa a outra ponta desta questão. E aí que o problema toma mais corpo, pois nela percebemos a hipocrisia. De uma geração que chega ao século XXI, com valores recém saídos do XIX. A geração dos anos 2000, quer bens de consumo, de maridos provedores e esposas profissionais. Tudo que esteja fora desse ambiente moralista e arranjado é descartado. Como se a vida fosse simples e harmoniosa.

A garota é desejável. Talvez cobiçada pelos rapazes e invejada pelas colegas. Tem coragem (ou a falta de noção) de ser o que é e por isso representa o desvio e deve ser exposta a humilhação pública. Por mais que a moça seja tão tapada quanto a barbárie, o mais triste dessa história é ver jovens alardeando um discurso velho e atrasado. Começa-se com as mulheres. Depois passa-se as minorias. E assim caminhamos para o que? Para onde? Uma vida feito uma propaganda de tv? Anexo abaixo desse comentário algumas opiniões interessantes que estão no Youtube. Ouça o professor, o aluno, e o "teórico". É interesse pensar. Eu tomei minha posição. Escolha a sua.






6 comentários:

  1. ca-ra-lho Marcelo. tô pensando desde a data referida sobre escrever um texto expressando minha opinião sobre o recente, porém oportuno fato. minha pergunta é a seguinte: posso recortar e colar???...

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  2. Muito bom, meu caro!!
    Ótimo texto e muito bom o video do Profº Alvarenga. O vídeo do garoto, meu deus, o que dizer, não?
    Resta-nos saber o que acontece com uma sociedade que reproduz valores e atitudes dignos de Idade Média mas que não a vivenciou, não?! Quando vi o vídeo, realmente, foi a estes momentos que minha mente viajou!! Me peguei assistindo a algum filme de época...
    que seja uma exposição excessiva em um ato de promiscuidade por parte da guria...
    que seja uma coisa execrável do ponto de vista feminino e feminista, que mostra o quanto muitas mulheres reproduzem a ótica machista na qual são meros objetos de consumo por parte dos homens em suas necessidades sexuais...
    que seja... a atitude dos alunos da Uniban não pode ser e não é justificável... tamanha exposição não é exemplar, como afirma este estudante, sequer resolve alguma coisa, pelo contrário, apenas revela o quanto vivemos uma sociedade facista e que está eregida sobre as estruturas descriminatórias quanto a qualquer minoria do ponto de vista do poder de gênero, raça ou econômico
    um abraço!!

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  3. Grande parceiro Marcelo. Parabéns pela crítica contundente! Não tinha me atentado para esse caso, obrigado por me alertar. A luta segue bicho... Vê meu blog aí http://laescuelacritica.blogspot.com

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  4. É, definitivamente Arcaico e hipócrita.

    E por mais que a garota tenha usado uma roupa desapropriada para um ambiente estudantil, NADA justifica a atitude reacionária dos alunos da UNIBAN.
    Muito mais vergonhoso e desapropriado foi o fato de alunos universitários se comportarem como gazelas no cio e perseguirem uma garota pelos corredores gritando 'Estupra', 'Vagabunda', entre outros insultos - formando uma maioria tirânica que se viu no direito de julgar e punir a garota como na era medieval, quase uma condenação em praça pública.

    Já que o rapaz aí estuda Direito, ele deve saber que o art. 5º,X da CF - Direito da personalidade - prevê indenização a moça por violação à Honra e à Imagem. Já o vestido da moça não está previsto em lei nenhuma, nem sequer constitui atentado ao pudor, ao contrário do "biquíni" ao qual ele se referiu ser bem melhor do que o vestido que a garota usou.
    Ainda baseando-se nas leis brasileiras, existe um Princípio da infastabilidade do Poder Judiciário (art. 5º, XXXV CF), segundo o qual o Poder Judiciário tem monopólio da Justiça. Sendo assim, não cabia aos alunos da UNIBAN julgar se a vestimenta da moça estava ou não adequada ao recinto, muito menos 'decretar sua sentença', na intenção de executar a mesma.

    É lastimável que jovens universitários tenham perdido tempo atentados a uma coisa tão pouco importante, e mais lastimável é perceber que esses mesmos jovens que se agruparam em uma espécie de facção, não tem a mesma voz na hora de exercer sua cidadania e vida política.
    Ou seja, nossos jovens se revoltam muito mais com o vestido curto da garota da sala ao lado do que a lambança nos cofres públicos, do que as enchentes, do que as crianças que fumam craque por falta de assistência, do que o aumento da criminalidade...

    É essa juventude que hasteia a bandeira do falso moralismo, o futuro do país.

    "A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos." (Montesquieu)

    www.desneura.wordpress.com

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Eu li os outros comentários, achei interessantes, com suas perspectivas e tal.
    Mas uma coisa que me foi deflagrada e que, pra falar a verdade, me enche o saco, é essa história de que a Universidade deveria ser um espaço disso, um espaço daquilo, igualdade, fraternidade, liberdade... e a bendita diversidade! Concordo, mas só tem um problema: tem que se tomar muito cuidado com esse discurso da Universidade, porque acho que às vezes a gente se esquece que essa porcaria que a gente frequenta de vez em quando tá inserida na sociedade e, logo, ela não está isenta de ter em seus corredores, saturados de saber e tão sacros (ou não), atitudes que, sim, são de um fascismo absurdo, deplorável e bastante passível de reprimendas - tanto as legitimadas e acordadas no discurso da lei, quanto para aqueles que têm culhões e vontade de poder - mas que, se olharmos com mais atenção, estão por toda parte.
    Acho que o que eu quero dizer é que a Universidade não pode ser vista como o espaço da diversidade, porque isso pode lhe conferir um estatuto de exclusividade que pode estancar o tal respeito pelos outros lá dentro... e do lado de fora, como é que fica?

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