12/07/2009

Mos Def e sua Mosdefinition no Brasil.


Finalmente rolou ontem um dos eventos mais esperados do ano para este macaco que vos escreve, o antigo festival Dulôco, agora chamado de Indie Hip Hop. A primeira edição do festival foi em 1999 e contou com nomes como Grandmaster Flash, Afrika Bambataa, De La Soul, Common, Jungle Brothers, etc. Isso só para falar dos gringos. Enfim, 10 anos se passaram e vários outros artistas passaram pelo evento. Tive o prazer de ver o Hieroglyphics, Jurassic Five e o Talib Kweli (Parceiro de Mos Def no Black Star), encontrar velhos amigos, ouvir boa música e com um pouco de saudosismo lembrar dos tempos de Ton Ton Club, 8ªDP, Nation, Soweto e Class. O Indie Hip Hop tem esse sabor para mim, está relacionado com as minhas lembranças de adolescência, misturadas as minhas aspirações de quem está beirando os 30 anos. É muito mais do que apenas um show de Rap, é quase uma cerimônia de transição pela qual eu tenho que passar todos os anos (Ou quase todos).

Este ano não foi diferente. Estrutura e organização impecável, ótimos shows, interação entre todos os elementos da cultura Hip Hop (que andam meio distantes uns dos outros) e o principal, pessoas felizes e se divertindo, assim como faziam os pioneiros nos sound systems de New York no final da década de 70.
A discotecagem ficou por conta de P.G. (sábado) DJ do Elo da Corrente e do Mamelo Sound System e Pathy de Jesus (domingo). Como eu só pude ir no domingo, gostaria de ressaltar a ótima performance de Pathy de Jesus nos toca-discos. Sabemos o quanto a nossa sociedade é machista e o quanto o Hip Hop por ser uma reprodução da sociedade, também pode ser muito machista, e acho incrível quando vejo mulheres participando das "contra-culturas" não somente como expectadoras (a namorada do fulando de tal), mas como criadoras. Atualmente isso vem crescendo muito no Hip Hop, e podemos citar exemplos como Flora Matos, Nathy MC, Luciana Playmobeats, Pathy de Jesus entre muitas outras. E domingo a Pathy arregaçou!!! A cada música era nitida a vibração da moça, que contagiava todos os presentes. Sem pose, ela pulava, dançava, jogava a mão para o alto como se não se importasse com mais nada, apenas com a música que fluia de seus toca-discos. E sensibilidade feminina é outra parada né! Todos os sons que a Pathy tocou vieram no momento certo para mim, como se ela estivesse lendo a minha mente.

O primeiro a entrar no palco foi o Nel Sentimentum, que lançou este ano o seu albúm "Sentimentumlogia" representando a galera de Curitiba A.K.A CWBeats. Apesar de eu não conhecer o trabalho dele, achei um show redondo, muito bem ensaiado e com uma sonoridade Rap clássica, rimas bem boladas e beats mais secos. E Curitiba atualmente é um centro de bons Beatmakers e Mc's, então provavelmente o trabalho de Nel só vai melhorar.

Depois do Nel, a galera de A Filial tomou o palco. Também não conhecia o som dos caras, mas para ser sincero poderia ter passado batido. Apesar do show bem ensaiado, redondinho, a sonoridade não me agradou. A Filial é um daqueles grupos que pode chamar atenção pela inovação e bom humor nas letras, mas tem uma dinâmica musical que flerta com o Rap Old School que não me agrada muito. Sem contar que cantar em inglês com sotaque de brasileiro é meio weird!

Eu ancioso para acabar o show de A Filial para eu poder ver um dos melhores MC's do Rap Nacional (na minha modesta opinião) em ação, mister Parteum. Quem conhece o trabalho do cara já sabe que musicalidade e inteligência ali sobram e energia no palco também, e domingo não foi diferente. Fazendo um split-show com seu amigo Kamau, que para mim lançou o melhor disco de Rap Nacional de 2008, Non Duco Ducor, a dupla fez um show incrível, poderoso, que ficará na memória de muitos que assistiram por muito tempo. Tocaram músicas do projeto esporádico "Dominantes", músicas próprias que já se tornaram clássicos como "Equílibrio" e "Raciocínio Quebrado" e fizeram todos os presentes pirarem nos flows e nas bases swingadas.

O quarto show da noite também foi um split-show. Mamelo Sound System e Elo da Corrente. O Mamelo é um grupo que eu sei que tem seu valor artístico e musical, justamente por ter a sua frente Rodrigo Brandão, um dos maiores conhecedores de música negra do Brasil e a talentosa MC Lurdes. Mas sinceramente, eu não consigo gostar! O Elo da Corrente, já deixou de ser emergente no Hip Hop nacional a muito tempo, o som dos caras está cada vez mais trabalhado e sofisticado, é um dos poucos grupos de Rap que conseguem juntar pessoas distintas como rappers, straight edges, designers da rua augusta, etc, em torno da música. Os shows dos dois grupos foram muito bons, mas definitivamente não rolou um empatia com o público. Não houve resposta e na verdade a grande maioria das pessoas pouco prestou atenção. Azar delas!

E finalmente, eis que surge no palco trajando sua boina, camisa branca, calça preta, terno preto, gravata vermelha e sapato bicolor, mister Boogie Man, Mos Def. Desde 1998 sonhava em ver o Mos Def e nunca pensei que seria possível aqui em terras tupiniquins (thanx indie hip hop again!), mas o meu sonho se realizou quando o MC originário de Brooklyn NY subiu ao palco. Daí para frente só pedrada! O show começou com as músicas do aclamado último disco "The Ecstatic", que tem uma sonoridade mais experimental e que pelo visto não caiu no gosto da galera, porque aparentemente não houve uma resposta imediata do público. Mas músicas como "Supermagic", "Auditorium", "Priority" e "Life in Marvelous Time" ao vivo, são mais poderosas do que no disco. Mos Def rimou, cantou e até sambou. Nos interludes das músicas seus DJ's tocavam clássicos da música negra brasileira e americana, muitas vezes mostrando até de onde os samplers de suas músicas foram retirados. Em alguns momentos, Mos Def tocou bateria em pé, fazendo ao vivo a percussão de algumas músicas. Simpátia e energia marcaram o show, sem aquela tradicional posse de mau dos Rappers nova-iorquinos, Mos Def trouxe boas vibrações com músicas como Ms. Fat Booty, Mathematics, Guetto Rock (que alías terminou com um interlude da clássica banda proto-punk de Chicago DEATH), Umi Says e a tão esperada Travelin' Man, produzida pelo DJ Honda e que se tornou um clássico do Hip Hop. Além disso teve a participação da banda Black Rio que tocou duas músicas ao vivo e fez a galera balançar e alguns covers de músicas do mestre Michael Jackson como, "Rock with you" e "Thriller". Enfim, eu sou suspeito para falar pois sou fã declarado do trabalho de Mos Def e o show de domingo fez jus a minha admiração. Fechei o ano em grande estilo e já posso morrer um pouco mais feliz.

PS: Quem foi no domingo, ainda ganhou um lindo livro de fotos contando a história do Dulôco, ou Indie Hip Hop.




Um comentário:

  1. Eu fui no sábado, o show foi muito bom também, com direito aos mesmos sons nos intervalos e ele arregaçando na percussão.

    E ainda teve 5 minutos de exibição do Mista Sinista nas pick-ups antes do show começar que valeu o ingresso.

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