12/22/2009

Uma lista particular: os sete melhores discos de 2009 por Thiago Zati (parte 2)

4 - The Flaming Lips - Embryonic



Outra banda norte-americana, agora de Oklahoma. O The Flaming Lips tem estrada e dispensa apresentações. Formado lá em meados dos anos 80, a banda conquistou uma sólida carreira no rock idependente. Zaireeka (de 1997), The Soft Bulletin (de 1999 e Yoshimi Battles the Pink Robots (de 2002) foram aclamados e incessados pela crítica, que colocou o Flaming Lips como uma das bandas mais importantes e interessantes da atualidade. Particularmente, eu apenas “gostava” dos Lips. Vi o show deles por aqui em 2007, achei lindo e gostoso de ver. Mas só. As letras e melodias de Mark Coyne apesar de interessantes, nunca me pegaram de verdade.
Mas com Embryonic foi tudo diferente: o primeiro álbum duplo da banda me cativou logo na primeira impressão. Com a participação de vários convidados especiais (como Karen O do Yeah! Yeah! Yeahs! e o duo MGMT), Embryonic vai muito mais fundo que os outros discos da banda no que se refere a experimentação. Aqui, a banda assume sua postura Space/ Psycodelic Rock dos anos 60 e 70, e produz um disco absolutamente sensacional. Impossível não ficar atordoado com a maestria da execução e da produção. Para ouvir com fone descente, com o som no talo.

3 - Converge - Axe to Fall



A primeira vez que ouvi o Converge foi com o álbum Jane Doe, e sua primeira música, Concubine. Assim que a música começou, lembro de que minha primeira reação foi um “caralho! puta que pariu!”. Assim é o Converge. Para quem não conhece, os caras praticam uma interpretação extremamente brutal de hardcore, com grandes porções de heavy e trash metal, que convencionou-se a chamar de Metalcore. Mas com o Converge tudo é um passo a frente destas denominações: é impressionante como uma banda consegue ser tão brutal e tão técnica ao mesmo tempo.
Axe to Fall é, com certeza, um dos melhores trabalhos da banda. O álbum contou com a colaboração de diversos músicos da atual cena de música extrema dos Estados Unidos, como Steve Von Till do Neurosis, Steve Brodsky do Cave In, Sean Martin do Cage, e muitos outros. Aliás, a própria colaboração entre músicos de diferentes bandas era uma das razões principais do disco, onde a banda, em conjunto com seus convidados, buscaram construir um trabalho e caráter coletivo.
O mais incrível do álbum é sua dinâmica: indo do absoluto caos, para a peso do doom, com incursões em experimentações semi-jazzisticas. Tudo e maneira coesa, com cada nota no seu devido lugar. A recepção da crítica para o disco não fez por menos: Axe to Fall foi o disco do ano pela Decibel Magazine.
Ps. Dark Horse deve ser a música de abertura mais avassaladora do hardcore contemporâneo.

2 - Fuck Buttons – Tarot Sport



O Fuck Buttons é um duo inglês que faz um som único, unindo o Post Rock, Aphex Twin, o noise e o drone. Seu disco de estréia, Street Horrrsing, foi amplamente aclamado pela crítica por sua musicalidade absolutamente hipnótica e experimental. Particularmente, ainda prefiro Street Horrrsing, mas Tarot Sport é um disco nada menos que sensacional. Aqui, a dupla se afasta um pouco do drone, e investe mais nas melodias e imagens sonoras. É eletrônico, mas não foi feito para as pistas. É musica pra ouvir andando na rua, vendo a cidade passar. Funciona quase que como uma explosão controlada. A sensação de ouvir Fuck Buttons é próxima a um pileque: é ser levado pelos sons, ritmos e temas. A dupla cria sua musica sempre com base na repetição: quase como uma suite jazzistica, onde temos um tema, e depois disso, suas variações. E é na busca por esse ritmo que Andrew Hung e Benjamin John Power mostram sua genialidade. A sonoridade apresentada é quase lisérgica, e a repetição incessante dos ritmos e sons criam um vértice sonoro difícil de escapar. Moderno, original e genial.

1 - The Twilight Sad - Forget the Night Ahead



O The Twilight Sad é da Escócia. E a Escócia é um país pródigo em boas bandas. Em 2007, a banda lançou seu debut Fourteen Autumns & Fifteen Winters, amplamente aclamado pela crítica. A sonoridade da banda une o brit-pop ao Sonic Youth, passando pelo experimetalismo do shoegaze. Tudo isso recheado por letras belíssimas, com temas que variam entre os problemas da infância e da adolescência, aos corações partidos da vida adulta, e recorrentes lembranças e tragédias particulares. A atmosfera é quase sempre escura e sombria, mas nunca fria. As músicas são tristes, mas não de maneira forçada: um coração triste produz musica triste e James Grahan faz questão de transpor suas questões pessoais para as letras e música.
Em 2009, a banda lançou seu segundo álbum: Forget The Night Ahead. E aqui, a banda amplia ainda mais sua musicalidade e seus temas, indo ainda mais perto da cena noise de Nova Iorque, mas ampliando e aprofundando sua temática e sua identidade musical. O disco é mais difícil que o anterior: é mais sujo, e porque não, também mais agressivo. Mas essa agressividade não é uma questão de execução, porque o som do The Twilight Sad é bastante acessível, mas talvez pelo contexto: Grahan escreveu o disco após a morte de um amigo próximo a sua família. E essa atmosfera torna as músicas dolorosamente belas.
Mas é impossível não se deixar levar pelas canções de Grahan com suas letras e seus sentimentos. Diferente da babaquice que se tornou o emo, aqui o que temos é arte. Perdi a conta de quantas vezes ouvi este disco na integra desde seu lançamento. Uma obra de sensibilidade ímpar.

3 comentários:

  1. Não vou dizer que esperava o Zeitgeist - Olha eu, pentelhando novamente- você nem ouviu ele inteiro. Acompanha-lo na construção do texto, até as 05h30 da matina, deveria ser um incentivo aos Abóboras, né?! Não? Tá, não.

    Twilight Sad. Tá ai uma das bandas que mais ouvi no ano. Desde o belíssimo Fourteen Autumns & Fifteen Winters, que domina até hoje meu mp4, passando pelo Killed My Parents and Hit the Road, cuja capa - QUE LINDA!- é uma direta homenagem ao Goo, do Sonic.
    Ainda não escutei a fundo o "Forget the night ahead", mas a faixa "The Room" já é tão bonita, que salvaria o disco inteiro, mesmo que as outras canções não possuíssem a mesma qualidade. Esta banda eu já roubei pra mim. É minha! Tá lá, perto do Radiohead, do Smashing, dos Smiths...
    Sua lista ficou linda! Parabéns!

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  2. Vou fazer um comentário lindo, grande e poético... Essa resenha do Converge tá fodida. Hahahahaha

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  3. Se o Converge faz Metalcore, eu paro de ouvir Converge agora.
    E uma correção: Thrash, o estilo musical, tem um H. Thrash, do inglês, quer dizer "bater, espancar, sacudir violentamente". Melhor ouvir um Metal que te faz sacudir violentamente a cabeça, do que um Lixo de Metal, né?
    E outra, nos anos 80 já havia a mistura de Thrash Metal e Hard Core, e isso tinha um nome: Crossover. Não entendo porque hoje insistem nesse rótulo de Metalcore para algo que já existia 30 anos atrás. Se bem que a explicação da origem do "Metalcore" está errada. Porque Metalcore tá longe do Thrash Metal, e mais longe ainda do Hard Core.
    E colocou o Baroness na lista e deixou de fora o Crack The Skye do Mastodon? Infinitamente melhor.

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