2/11/2010

Uma nota sobre um disco - The Wall e o nascimento do Punk


Este é um ritual quase morto. Estava em casa batendo meus vinis, revendo alguns discos, colocando coisas pra tocar que não colocava já a um bom tempo. Vendo a agulha percorrer os sulcos dos discos pretos. Nestas redescobertas, voltei aos meus discos do Pink Floyd.
Sempre fui um grande admirador do Floyd, mas foi de um ou dois anos pra cá que eu passei a admirar mais a fase pré-Dark Side of The Moon. Entre 1967 e 1973 o Pink Floyd foi, junto com bandas como o The Velvet Underground, David Bowie, Roxy Music e outras, os líderes de um movimento musical que acabou sendo conhecido como “Art Rock”. O Art Rock buscava criar uma experiência sensorial através da união entre música e imagem. Ou seja, elementos de artes visuais e do teatro incorporadas ao espetáculo musical a fim de aprofundá-lo e ampliá-lo. O Pink Floyd tornou-se, talvez, o mais excênctrico destes grupos. Com shows de proporções cada vez mais impressionantes, o Floyd passou de uma banda experimental e underground, para um mastodonte que vendia discos às pencas e lotava estádios.
The Dark Side of The Moon é um importante divisor de águas na carreira da banda. Com a saída de Syd Barret por problemas psicológicos ainda no início do grupo, Roger Waters tornou-se o principal compositor e líder. E em 1973 com o lançamento de Dark Side - um disco que tinha como linha conceitual a idéia de “loucura” - o Pink Floyd se transforma na maior banda do planeta, com total aclamação do público e crítica.
De 73 a 78, o Pink Floyd só cresce em tamanho e público. Dois álbuns icônicos foram lançados neste periodo: Wish You Were Here (1975) e Animals (1977), ambos álbuns essenciais na carreira do Floyd. Mas é em 1979 que as coisas ficam mais complexas. The Wall não é, nem de longe, um dos discos mais interessantes da carreira do Pink Floyd, mas talvez seja o mais importante no que se refere ao conceito. The Wall significou, literalmente, o apartamento do Floyd de seu público.
O Pink Floyd já tinha dado indícios disso: em 1972 o vídeo Live At Pompeii saiu, e lá, o Floyd tocava para absloutamente ninguém. Mas com The Wall, esse apartamento banda x público se tornou não apenas uma idéia, mas sim, uma prática. Em todos os shows do Floyd realizados entre 1980 e 1981, um muro era construído fisicamente, separando banda e platéia. Essa separação entre os dois grupos que compõem um show foi expressão, na música pop, da alienação da relação artista - público, que varreu a arte moderna pós-pop-art.
A reação veio antes mesmo do lançamento de The Wall. Em 1975, o Punk surgia em Nova York com os Ramones, e ali, sua total contradição ao Art Rock: a relação entre platéia e banda retorna a pura simplicidade do confronto. O Punk inflige música ao público. E esse caráter quase violento faz com que o papel da música na cultura popular retorne ao ponto fundamental: a expressão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário