7/20/2010

Few minutes ago via web


Todo dia é igual. Ao abrir meu Twitter, vejo uma torrente de segredos, confissões e delações na minha time-line. Todos os dias, a cada update.
É estranho: no princípio eu admirei o Twitter como ferramenta. “Seguir” as pessoas e coisas certas mudava a maneira como lidava com a informação. A capacidade de dispersão de produção de conteúdo me pareceu o futuro da comunicação e da promoção de idéias. A busca de informação não era mais realizada por mim, de maneira indireta, filtrando previamente minhas preferências, automaticamente era criado um banco de dados atualizado das coisas que gosto, a todo momento.
Mas isso foi no princípio. Houve uma migração massiva de usuários do orkut para o twitter (o tal do usuário médio) e foi então que minha time-line mudou drasticamente. Cada dia que passava, eu sabia mais dos pequenos segredos e das pequenas perversões daqueles que seguia: brigas com o namorado, confissões de desejos, frustrações amorosas, relações pessoais de trabalho. Tudo. De um momento para o outro, não havia mais segredos.
Sim, minha reação imediata foi não seguir mais as pessoas que “poluíam” meu Twitter. Porém, o que me assustou foi o fato de que este não movimento não era um caso isolado, pelo contrário: é assim que grande parte dos usuários pessoas utilizam a internet e as redes sociais.
Este é um fenômeno social.
As pessoas não conseguem mais pensar, sentir ou ouvir qualquer cosia sem espalhar para os sete ventos o “que está acontecendo agora”. Demissões foram causadas por tuites mal vistos. Namoros terminam devido a exposições não planejadas. Traições são descobertas. Amizades são rompidas.
Não sou um conservador: acredito que dividir gostos, preferências, idéias e sentimentos seja algo de positivo. Uma mágica realizada pela internet e pela conexão entre as pessoas. Porém, me assusta o uso que fazemos da ferramenta, e a maneira como estamos lidando com nossa privacidade.
Cada vez mais, o que é público e o que é privado torna-se indiscernível, e qualquer possibilidade de resguardo de intimidade passa a ser visto como uma falta. É interessante notar o fato de que o brasileiro é o povo com maior adesão às redes sociais. Justo nós, que desde em nossa origem histórico-social, temos um lapso na relação coisa-pública/ coisa privada.
Vejo aqui um pequeno sintoma de nossa sociedade contemporânea. A massa hoje não é mais amorfa: ela possui um avatar, um log-in, uma senha, um twitter, um orkut, um facebook. A identidade está ao alcance de alguns cliques. Porém, esta identidade construída virtualmente, devido a sua fragilidade, deve ser sempre reafirmada, devassada, violentada. Criamos uma identidade inventada, vivemos a auto-afirmação do querer ser. Como pequenos deuses, criamos a nós mesmos, mas de acordo com nossos desejos e intenções, não mais a nossa semelhança. Nós mesmos nos tornamos produto.
No mundo onde a depressão e a solidão são moedas de troca, as redes sociais se tornaram grandes divãs públicos: hoje, todos estamos ao mesmo tempo, deitados falando e ouvindo.
Me pergunto se em nome do ego, não estamos, a cada tuitada, matando nosso super-ego.

Um comentário:

  1. A privacidade morreu junto com a nossa paciência pra essa vibe "o que você está fazendo agora?"

    Belo texto. Tenho a sensação às vezes. Tá ligado aquele meme "you doing it wrong", acho que acontece isso com as redes sociais. Pode ser muito útil para conhecer pessoas com as mesmas afinidades que você, compartilhar idéias, indicações, notícias, mas a galera usa pra dizer que "o sorvete de maracujá tava demais, huuuummmmmm!"

    Demais o texto,
    Abraço

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