4/07/2009

Desperto

Permaneceu inerte, pensou apenas, “talvez estou morto”. Não estava. Do teto, correu os olhos a janela. O sol vinha impiedoso. Algo faltava. O som, que parecia esconder-se dele por trás da vidraça, teimando em ficar invisível, ria da busca surda de seus ouvidos.

Num grande esforço esticou braços e pernas, girou o tronco e sentiu o chão frio sob os pés. Seria mais frio fosse uma sala mortuária, pensou. Mas era a baixa temperatura de algo costumeiro. Em algum canto das lembranças na cachola teria uma explicação.

Arrastou-se nu. Sentia dor pelo corpo todo, ao girar a cabeça quase perde o equilíbrio. As paredes são brancas, lisas, sem decoração. Adiante uma janela. No sentido oposto uma porta. Ele força entre os zunidos da mente, a obrigação dos ouvidos de detectar algo. É tudo que vê, silêncio.

A janela não tem nada que a abra. A cidade não o vê. Ele não se revolta, não se rebela. As horas, se é que elas existem ainda, fazem seu jugo. Se sim ou não, o sol é o único a saber, e como companheiro vem e vai. Quem sabe ele até volte amanhã.

A noite vem, traz o brilho de milhares de quartos desconhecidos sendo acesos, luminosos, com outros que caminham de cá para lá. Talvez olhando a janela esperando o sol, e sem ouvir nada por fora da porta. Ele sente o sono vir. Mas antes de cair no onírico, faz menção de perguntar a si mesmo: Será que amanhã é igual à ontem e hoje? Ou será que ontem e hoje nunca existiram?

 

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