4/06/2009

Kurt Cobain para mim


Era um sábado, dia 9 de abril de 1994. Eu tinha 14 anos. Na época eu andava muito de bicicleta pelas ruas do bairro, sempre ia à casa de amigos e primos e de lá, partíamos para outros lugares. Passava assim meus dias. Minhas tardes. A vida era mais fácil.
Mas no meio do caminho, de cá pra lá, havia uma banca de jornal. Naqueles anos, não havia internet. Notícias se liam no papel, e com atraso. Sempre passava naquela banca, pois seu Cícero gostava de pendurar as primeiras páginas dos jornais do dia na lateral. Os passantes às vezes paravam um pouco ali, viam as notícias e iam embora. Ou esperavam o ônibus de olho nas linhas e colunas que ali estavam expostas. Óbvio, as de esporte eram as mais concorridas. Foi nessa época que comprei minha primeira revista de mulher pelada. Lá eu comprava assiduamente revistas de videogames que colecionava. Naquela manhã, parei a bicicleta e comecei a ler. Mas naquele dia, uma notícia me chamou demais a atenção: “Morreu Kurt Cobain, líder do Nirvana”. Foi um baque. Bam! Lembro-me nitidamente de ficar boquiaberto, ler a notícia toda, relê-la do início ao fim, e mais uma vez. Peguei a bicicleta e a levei empurrando até a casa dos meus primos. Lá, contei a notícia a todos. Ligamos o rádio e ficamos ali, a tarde toda, tentando entender o que houve. Kurt tinha morrido, e aquilo significava muito. Hoje é fácil para os críticos ponderarem o papel de Kurt Cobain e do Nirvana como embuste, ou como mártirio. O afastamento histórico permite esta frieza. Muito se criticou o movimento de Seattle conhecido como Grunge. Muitas linhas foram escritas para buscar compreender o ocorrido: o vício, a esposa, a fama, e etc. A década perdida do Rock. A crítica dos metaleiros. Tanta coisa. Tantas páginas. Para mim, naquele 94, era o fim de uma era. No meu ouvido, o rock é o que manda. Tudo que vem de arrasto vêm pelo rock. Nada mais. É a base do meu gosto musical. O primeiro disco que ouvi na vida e de que gostei fora o Volume 4. Depois veio o Led Zeppelin 4. E então Sgt. Peppers e Dark Side of The Moon. Nesta ordem. Eram os discos do meu pai. Os ouvi com ele. Como quem divide um baseado. Proibido. O Nirvana não. Era essa a primeira banda da minha geração. A banda era minha. E era a primeira. Bandas melhores vieram. Indiscutivelmente o Soudgarden e o Alice In Chains eram bandas melhores que o Nirvana. Mas o Nirvana era o primeiro: eram os pais de tudo, o detonador da avalanche. Meu gosto mudou muito nesse meio tempo: em 15 anos, ele oscilou sobre muitas variáveis. Mas uma coisa, ninguém pode apontar o dedo. Cobain sempre foi honesto a respeito de suas origens: Pixies, Sonic Youth, Melvins e Meat Puppets. Eu descobri o underground pelo Nirvana. Esse talvez seja o maior legado de Kurt: suas indicações moldaram o gosto musical da juventude antenada. Fora da moda Nevermind, o cara disse coisas que não conhecíamos. Mais que as estampas das camisetas, o fim da jornada não estava alí. O Nirvana era o pico da montanha. Muita água havia passado por debaixo da ponte. E essa era a essência para além da aparência. Sempre existe algo além do nosso próprio reflexo no lago.

Um comentário: