6/29/2009

Revolução na Revolução - o Irã é agora


Uma lição de história via twitter

Em 1979, o Aiatolá Khomeini liderou de Paris, uma grande revolução no Irã. Foi a primeira revolução genuinamente eletrônica. Fitas cacetes e telefonemas internacionais deram a oportunidade a Khomeini e seus correligionários dar fim ao domínio dos Pahlevi. Denominada “Islâmica”, a revolução no Irã foi bastante ocidental em seus métodos: execuções, prisões e um permanente Estado de Exceção, seguindo os modelos das Revoluções Francesa e Russa. O que se sucedeu foi toda a alteração do modelo político e social do país e uma proposta de redesenho do sistema representativo ocidental: o Aiatolá surge como a figura política e religiosa central da estrutura organizacional do Estado, dominando todo os três poderes, seguido por um Conselho de Especialistas e abaixo deste, o legislativo, o judiciário e o executivo, que estão em igualdade com um Conselho de Guardiões. No Irã, religião e política se confundem, criando uma estrutura político-organizacional única.
Trinta anos depois, as ruas de Teerã vivem uma Primavera de Praga particular. Com indícios claros de fraude, as eleições chegaram a um impasse: o presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad foi garantido no cargo pelo Aiatolá Ali Khamenei. O principal candidato opositor Mir Hossein Mousavi veio a público pessoalmente incitar seus partidários a não aceitar o resultado das eleições. O resultado prático desta queda de braço é o caos civil. Milhares de presos, dezenas de mortos, conflitos civis, manifestações em grande escala e um impasse político sem precedentes na história pós-revolucionária do Irã. A crítica ao regime e o estado de indisciplina civil não é apenas reflexo de um descontentamento com o resultado das eleições: seu resultado simbólico está profundamente ligado a auto-imagem da sociedade iraniana. O controle não existe se não for totalizante e um regime não pode controlar apenas parcialmente sua população e não esperar conseqüências. O impulso à modernidade – latente na sociedade iraniana, em especial entre os mais jovens, fica explícito na recusa à Ahmadinejad e a vontade de inclusão destes como participantes de um processo cada vez mais irrefreável de compartilhamento e produção instantânea de informação. Dois comentários tornam-se pertinentes neste contexto: o primeiro está no impacto das novas tecnologias: twitter, blogs, youtube, myspace e facebook. Estas foram as principais armas dos opositores do regime. A revolução da informação mudou a forma da rebelião, e este é o maior exemplo para qualquer movimento radical contemporâneo, pois mostra o a impossibilidade do governo em controlar a pulverizada internet. Na tentativa de controlar a imprensa, a mídia pessoal passou a ser a fonte de informação mais importante para os acontecimentos no Irã. O segundo está nas respostas que podemos encontrar nas entrelinhas dos conflitos internos do Irã. Em uma série de artigos nos anos de 1978 e 1979, Michel Foucault – filósofo e intelectual radical francês, colocou-se favorável a revolução iraniana. Não só Foucault, como grande parte da intelectualidade de esquerda apoiava Khomeini: naquela época, este aparecia como um articulador anti-secular, crítico dos descaminhos da sociedade capitalista-ocidental-industrial. Três décadas depois, o regime do iraniano é amplamente reconhecido por seus roupantes totalitários, sua mania de controle e sua cada vez maior falta de legitimidade. É a primeira vez na história que a figura do líder supremo do país é questionada. E este é o maior passo que a sociedade iraniana pode dar em direção a emancipação.

Abaixo: Alguns vídeos colocados no youtube sobre os protestos en Teerã





Um comentário:

  1. resta saber qual a proposta para um novo governo...se vai trocar um teocrático por um neoliberal...mas é notório que a população está insatisfeita, e é válido que se rebelem. O maior problema é que recebemos as notícias sobre o Irã por meios que têm seus próprios interesses. Espero que o povo que está morrendo nas ruas não seja apenas massa de manobra de uma elite neoliberal que vai fazer tanto mal quanto o atual regime.
    Enquanto isso em Honduras...

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