2/24/2010

A Fita Branca - Michel Haneke


Michel Haneke é, sem sombra de dúvidas, um dos diretores mais interessantes do cinema contemporâneo. Lembro-me exatamente da impressão avassaladora que tive ao ver Tempos de Lobo; ou mais recentemente, da estranheza e incomodo ao assistir Caché. Seu cinema sempre busca uma relação de absurdo entre os personagens e a realidade que os cercam, mas este absurdo nunca é abstrato: ele sempre se apresenta como uma possibilidade virtualmente real, o que cria uma atmosfera de absoluta autenticidade em seus filmes. Mas é neste mais recente A Fita Branca que seu cinema adquire uma espantosa maturidade no que se refere à relação forma-conteúdo.
A Fita Branca retrata um vilarejo alemão nos momentos imediatamente anteriores a deflagração da Primeira Guerra Mundial. É neste micro-universo que se desenvolve toda a trama, guiada pelas observações do narrador, que também foi personagem dos acontecimentos que ocorreram na vila. E, como nos informa o narrador, são estas circunstâncias que podem nos ajudar a compreender os fatos que se sucederam na história do país, ou seja, a declaração de guerra da recém unificada Alemanha à Russia em apoio ao Império Austro-Húngaro.
Haneke utiliza este pequeno vilarejo , seus habitantes e alguns acontecimentos que ali ocorreram apenas como um recurso simbólico para o desenvolvimento de uma tese: a Alemanha, pré-Primeira Guerra Mundial, viu-se diante do catástrofe, do medo e da perda da inocência. Esta inocência perdida está singelamente representada na fita branca que dá título ao filme, para que lembremos desta pureza (sinal do sagrado) que tem como referência direta uma idílica idéia de moral. E é este conflito entre o “ser” e uma idéia de “dever ser” que domina a trama e cria a atmosfera simbólica absolutamente opressora que dá o tom de todo o filme.
Ao final da sessão, A Fita Branca traz a marca fundamental da grande obra: é somente em sua alegoria que o que não pode ser dito em palavras alcança toda sua complexidade e ambiguidade.

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