4/19/2009

Jean Genet

O lírico marginal.



Filho de prostituta e de pai desconhecido, homossexual, ladrão e ativista político, Jean Genet pode ser considerado um dos maiores gênios da literatura do século XX.
Entre prisões, amantes e noites de bebedeiras, Genet produziu obras literárias e peças teatrais incríveis como; O Balcão, Os negros biombos, O milagre da rosa, entre outras. A sua literatura marginal, propõe ao leitor não somente uma viagem pelo submundo das cidades, mas também pelo submundo do EU. Vícios e pulsões transgressoras rementem as obras de Marquês de Sade e Lord Byron, e a necessidade de se encontrar, de saber "quem se é" faz com que suas obras sejam compostas de certas pinceladas existencialistas.

"O homem é aquilo que faz, ou melhor, sua função social determina sua existência." E é por isso que Genet abandona a sociedade, que o abandonou primeiro e assume a sua marginalidade como uma forma de devolver a sociedade o desprezo que outrora foi lhe direcionado.
Genet também se envolveu com atividades políticas na década de 70, apoiando a causa palestina, o Black Panther Party nos Estados Unidos e publicou artigos defendendo os trabalhadores imigrantes na França.

Meu primeiro contato com a obra de Genet se deu através de uma de suas peças mais conhecidas, "O Balcão", e me lembro que devorei o livro em menos de uma semana. Na época percebi uma certa semelhança com a literatura beatnick, mas apesar da temática marginal em comum, Jean Genet consegue relatar a marginalidade de forma liríca e a revolta contida em cada linha passava longe da recusa "quase-hippie" dos autores da geração beat. Genet pulsava com vida em cada linha, era a dilaceração do autor que depois encontra a sua redenção. Sua redenção é a recusa a essa sociedade e toda a sua história está no corpo, e é por isso que Genet é tão atual, porque lê-lo ainda incomoda.

“A sociedade, tal como vocês a constituem, eu a odeio. Eu sempre a odiei e vomitei. (...) Desde que encontrei na literatura um exultório, meu ódio tomou uma outra forma, menos pessoal: ele não se traduz mais num impulso interior mais ou menos acidental, ele se deduz de uma filosofia aclarada pela experiência. De um rancor nasce uma idéia. E essa idéia torna-se, à medida que avanço dentro de minha obra, mais serena e mais indestrutível. Eu o sei, eu o testemunho: a ordem social não se mantém senão ao preço de uma infernal maldição que aflige os seres, dentre os quais os mais vis, os mais nulos estão próximos de mim – quer isso agrade a vocês ou não – que qualquer burguês virtuoso e assegurado. Para sempre eu me fiz intérprete dos dejetos humanos, dos resíduos que apodrecem nas prisões, debaixo das pontes, no fundo da fétida podridão das cidades”.

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