7/31/2009

Cenas, Sub-Cenas e Contra-Cenas. Para entender "um pouco" a música de subsolo.


Acho que todos os leitores deste blog já perceberam que quase todas as últimas postagens foram relacionadas a música, o que provávelmente será um tema muito mais explorado aqui e que trará novidades para todos. E como eu não quero ser aquele que vai romper com o fluxo da coisa, resolvi também fazer um post sobre música, mas não indicação, nem resenha de nada. Este é um texto no qual eu tentei refletir e entender um pouco o que anda acontecendo no cenário musical independente ou faça-você-mesmo (Punk). Percebam que não coloquei tudo isto no mesmo saco, justamente porque eu acho que há uma diferença entre cada uma dessas esferas da produção musical que hoje se concentra principalmente na rua Augusta (Também conhecida como "Nova Babilônia").

Para vocês entenderem melhor o que se passa aqui, posso dizer-lhes que eu tenho uma banda, outros memebros deste blog-revista-coletivo de macacos, também tem bandas e circulamos muito por shows, bares e lugares da tal rua Augusta. E conversando com pessoas, pesquisando bandas, assistindo e tocando em shows, percebi que a configuração do "underground" vem mudando drásticamente. Primeiro vamos tentar entender esse monstro musical.

O que seria o tal independente?

Não entendam isso como uma verdade estabelecida, é apenas a minha interpretação dos fatos, é como eu enxergo a coisa.
A tal cena independente, me parece apenas um fragmento contemporâneo do tal monstro "underground", que começou a se configurar no ínicio desta década e principalmente por causa da popularização das internet. O independente hoje, é um fenômeno de internet e não tem nada a ver com o termo que era usado na década de noventa para descrever as bandas que giravam em torno do selo Matador.
Esta nova cena independente não gira em torno de um selo, mas sim em torno de uma emissora de televisão, a MTV, e tem uma ideologia muito particular. Com a popularização da internet, a consolidação do plano real que aumentou a capacidade de consumo da classe média, muitos jovens, rockeiros e aspirantes a pop star, começaram a montar bandas e divulgar seus trabalhos na internet. Talvez, no primeiro instante, esse processo era apenas uma modernização das famosas fitinhas demo que eram distribuidas e vendidas de mão em mão em shows, e que ajudavam as bandas a arrumarem shows e até viajar para outros Estados, daquele jeitão Punk mesmo, quase sempre no prejuízo. Mas o que vemos nos últimos anos é uma centena de bandas que utilizam o circuito independente como uma plataforma para o córrego principal da música (mainstream). Até ai nenhuma novidade, mas o engraçado é que a grande maioria não alcança nunca esse mainstream e acabam se ficando entre o underground-punk que toca em botecos sujos e o mainstream-pop que toca em grandes festivais. Isto é a nova cena independente brasileira, o meio do nada.

É claro que esse processo de inclusão total, faz parte da lógica do capital, da indústria cultural (dá-lhe Adornão!), mas como no Brasil tudo meio que acontece brasileiramente, essa inclusão nunca é total e sabe porque? Simplesmente porque as guitarrinhas bregas e oitavas, ou visual desleixado-chic anos sessenta ou pseudo-folk autista nunca serão páreos para o mexe a cadeira do axé, funk carioca, etc. Como os ouvidos não estão mais acostumados a ouvir e somente o corpo está acostumado a dançar, nem toda a pose pankake das tais bandas nova MTV, conseguem ter a atenção total da massa, exceto os adolescentes perdidos, sem a menor referência musical, que se juntam em bandos de roupas coloridas e cortes de cabelos bizarros, mais preocupados com a estética pasteurizada vendida na galeria do rock, do que com a música em si. É por isso que os NX zero, um, dois, três...Conseguem ser diferentes do resto dessas bandas, e conseguem ser geniais em toda sua ruindade, pois imitam o que é grande lá na terra do Tio Sam de uma forma tão estúpida e plastificada que qualquer bom ouvidor de Sunny Day Real Estate, ficaria envergonhado. Bye Bye Emo!

Memórias do Subsolo!

Agora tratemos do subsolo, do Punk e suas mil variantes.
Enquanto do lado de lá do córrego, temos o meio termo de bandas que não sobem nem descem. Do lado de cá temos dois tipos de banda, as que permanecem no underground-punk por falta de opção, e as que permanecem por convicção.

As primeiras, são criadoras de uma lógica própria, e acabam por criar uma cena própria. Vários são os estilos, mas a idéia é uma só, manter-se no mesmo lugar pois é aqui que brilhamos. Não tem nada a ver com contra-posição a lógica de mercado, ou qualquer coisa relacionada a postura política, é simplesmente comodismo. É o medo de perder o posto de estrela do esgoto. As cenas se fecham em seus estilos, a experimentção acaba, a fórmula repetitiva fordista usada no tal mainstream também se repete, e para que mexer em time que está ganhando, não é mesmo? O ponto positivo é que muitas vezes as propostas musicais são honestas, mesmo não sendo nada de surpreendente.

As segundas, as que permenecem nisso por convicção, geralmente fazem o oposto do que as cenas e sub-cenas fazem. Elas funcionam como contra-cenas, deslocadas, não identifícaveis, perdidas na babilônia. Juntam-se em pequenos grupos de afinidade, mas estão sempre abertas a mudanças e trocas. Estão nessa por convicção, e principalmente pela música.
A imprensa especializada e estupidificada, costuma dizer que nada de interessante acontece no cenário musical brasileiro, e quando algo interessante aparece, sempre fazem referência ao tal independente, e toda a máquina mercantil que está por trás disso, selos, festivais no nordeste, grandes veículos de comunicação, etc. Mas a real é que eles são limpinhos demais para chegar ao fundo do cenário musical e os ouvidos pouco acostumados a ouvir, fazem coro com as mentes pouco costumadas a pensar e pesquisar.

Deste modo, temos uma criação de massa, de uma ideologia de cena independente, que na verdade não passa de uma reprodução torta de um mainstream ruim, mas que consegue pelo menos alcançar seus objetivos, massificação e enriquecimento. E o underground? a verdadeira contra-cena independente? o faça-você-mesmo? Esse sempre vai continuar existindo, enquanto garotos continuarem assistindo documentários como "Another State of Mind", "We Jam Econo" e "American Hardcore", e sentirem vontade de montar uma banda, mandar um foda-se para a estrutura e correr o máximo de lugares possíveis, só pelo prazer de fazer barulho.

Um comentário:

  1. Viny, primeiramente gostaria de me dizer que me identifiquei muito com o texto, já que por anos da minha vida fiz parte militantemente do movimento punk e tive minhas bandas tocando em bares sujos e apertados, ja visitei os porões do undergrund em uma epoca onde deixei bastante saudade, e vi essa mudança acontecer inicialmente esses muleques Emos eram chamados de FOR FUN, e talvez para a epoca isso não passava de crianças descobrindo a alegria de se sentirem livres, buscavam diversão, mas com o tempo tudo tomou uma proporção imensa, como diz no post devido a popularização da internet e suas facilidades de comunicação, instântâneo.
    Sabe que existe aquelas bandas que permanecem ali a anos tais como exemplo o Restos de Nada, ou até mesmo do Invasores ambas representadas pelo Ariel, um punk que permanesceu no punk desde 80 e hoje é mais um que toca na augusta tal como em bares como o bar do baú que fica localizado a margem da represa do guarapiranga (do meu tempo um dos bares mais punks de sampa.
    Lembranças e saudades foram o que restaram desta epoca, porém, uma pergunta pertinte do texto onde foi parar o underground? O "independente" ou underground esta nas ruas..rs esta pelos cantos, pelos bairros e em todo o centro, ainda encontramos jovens guerreiros lutanto pelos idéias e em busca de diversão, nem sempre serão compreendidos, nem sempre é o que querem.
    Valeu Vinny, tenha um grande dia

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