9/21/2009

Reformismo ismo ismo! - Crítica ao Dia Mundial Sem Carro


A embalagem é bem bonita e elegante. Um laço vermelho bem grande. Tudo muito legal, afinal de contas, são todas bandeiras incontestáveis: a ecologia, o transporte público, a educação, a consciência. Quem, me diga, quem pode levantar o dedo e não apontar estas como questões absolutamente sensíveis e necessárias para a sociedade atual? Quem??

Desde 1998, quando 35 cidades francesas adotaram o Car Free Day, o dia 22 de setembro é reconhecido como o Dia Mundial Sem Carro. No Brasil, a patota começou no ano de 2001, e hoje mais de 100 cidades colocam o evento em suas agendas oficiais, e quase 300 ONGs trabalham para a promoção da data. No site oficial do evento (http://www.worldcarfree.net/wcfd/), está tudo lá: o por que do dia, o caráter educacional da iniciativa, a busca por uma crítica constante, a importância do transporte público, a retórica ambiental sobre o aquecimento global e tal. Muito bem, muito bem. Tudo muito bem amarrado, certinho, tin tin, por tin tin.

Mas é sempre aí que algo não encaixa. E é aqui que uma face cada vez mais triste do mundo se avoluma cada vez mais. A impossibilidade prática e teórica que temos de colocar os reais pingos nos is, de vermos as questões para além do bem e do mal. Nossa crítica, é quase sempre, superficial, e, porque não, (SIC!!) marxisticamente falando, reacionárias.

O Dia Mundial sem Carro pode ser entendido pelo conceito de “Pacificação”, ou seja, quando criam-se condições dentro da sociedade para que um tema que teria a possibilidade de explicitar a crise social em que vivemos são recondicionadas por noções que apenas aplacam estas tensões. este movimento que inundou os debates sindicais desde o século XIX na Europa e a partir dos anos de 1970 no Brasil.

Em sua quase totalidade, todas as ações críticas possuem aspectos muito “conservadores” em sua abordagem. “Conservadores”, porque a crítica nunca perpassa o capital. É impossível conviver em um mundo ambientalmente sustentável, sendo que nossa maneira de compreender e trabalhar o mundo é inexoravelmente destruidora e apropriativa.

Mas o pior lado da moeda não são “as malignas forças burguesas...” como gostam de dizer nossos amigos dos diversos movimentos Marxistas e Comunistas, cada vez mais ralos e acéfalos. O mais impressionante é o fato de uma parcela considerável de políticos e pessoas públicas colocaram o Dia Mundial Sem Carro como algo estratosféricamente inovador em sua prática, revolucionário em sua abordagem e necessário para o nosso estilo de vida. E aqui, movimentos sociais urbanos como o Critical Mass, ou seu filho tupi, o Bicicletada, acabam por se incluir em uma onda muito maior, onde uma série de ações articuladas e de caráter assumidamente reformistas capturam a “vibe” do momento. A incrível capacidade de adaptação do Estado capitalista a todas estas formas de manifestações coletivas é incrível, e jamais pode ser subestimada. Ao olhar para o Dia Mundial Sem Carro e ver Walter Feldman se perguntar via twitter se vai “pedalando ou de metro” para o trabalho amanhã, uma certeza eu já tenho: com esse grupo, eu não estou. Amanhã, vou a escola de carro. Só de pirraça.

2 comentários:

  1. Cara, simples e direto o texto. Muitas das coisas que colocou, eu penso da mesma forma.

    Não dá pra engolir essa coisa de "Classe-Média-com-peso-de-consciência", do dia mundial sem carro.

    ResponderExcluir