Primeiramente gostaria de ressaltar que o blog da Revista Apes, assim como a própria revista digital é produzido por um coletivo de pessoas, com opiniões muitas vezes divergentes e que a partir das discussões e reflexões tentamos alcançar a espinha dorsal das questões abordadas, não para produzir consenso, pois afinal de contas sociedade é conflito, mas sim para produzir um dissenso crítico.
Eu não pretendia escrever a respeito das ações que ocorreram na 23 de maio no último dia 13 de setembro, mas tendo em vista a polêmica gerada em torno do post do meu amigo e co-produtor deste blog T. Cutovoi, eu resolvi postar uma breve reflexão acerca dos acontecimentos, para mostrar exatamente a pluralidade de idéias dentro deste coletivo símio.
Procuro pensar a arte sempre numa perspectiva político-social, até porque não tenho formação técnica em artes, pois minha formação é em sociologia, deste modo, a minha avaliação não tem tanta ênfase na discussão estética proposta pelo meu colega T. Cutovoi, apesar de concordar com ele neste ponto.
Primeiramente é preciso tentar compreender o que é hoje a tal street art e qual a sua relevância político-social, quais as forças que estão em jogo neste meio? A street art como conhecemos hoje, enfatizando principalmente o grafite e seu irmão maldito a pixação, tem o seu embrião nas manifestações políticas dos anos 60 (pixações) e a partir daí houve uma revolução através de Basquiat e outros artistas, para uma arte mais conceitual e técnica (grafite). Nos anos 80 este tipo de manifestação estava diretamente relacionada com as culturas que começavam a emergir nas periferias, principalmente dos EUA, e tinham uma relação direta com a contestação em relação à apropriação do espaço público, além é claro da auto-promoção dos grafiteiros e pixadores, até então marginalizados. Bom, podemos concluir que a street art, antes de qualquer coisa, é uma manifestação política, mas hoje encontramos esta manifestação totalmente deturpada na maioria das vezes. No mundo do capital, tudo se transforma em mercadoria e toda forma de contestação acaba mais cedo ou mais tarde sendo enlatada e vendida para nós em caixinhas coloridas com o rótulo de “última tendência” dentro das vanguardas culturais. A street art hoje é isso. É a última tendência. É o que há de mais descolado e pseudo-subversivo. Talvez a exceção seja a pixação, por ser algo feio e sujo, que realmente se contrapõe à lógica de mercado, pois não tem valor de troca. Mesmo inconscientemente, a pixação contínua sendo a pedra no sapato do tal cinza da cidade.
Esse ativismo todo que cerca o manifesto da 23 de maio, como a maioria dos ativismos contemporâneos são apenas fetiches da ação, pois pensar radicalmente aquilo que se faz se torna algo secundário. Dizer que as ações de street art visam levar a arte para quem não tem acesso a ela, só demonstra a lógica vanguardista e conseqüentemente hierárquica dos grupos envolvidos, ou seja, o discurso não passa por uma reflexão crítica e resvala sempre no senso comum de vanguarda (iluminar as massas).
Imagem: Stencil do artista Banksy e Pixações na Bienal de São Paulo de 2009.
Salve!!!
ResponderExcluirÓtimo blog!!!
Tenhos aqui no Brasil um cartunista que na minha visão é bem melhor que o Banksy (não que ele não seja ótimo), mas o nosso CARLOS LATUFF é bem mais criativo!
Vida longa ao blog!
Provos Brasil
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