9/16/2009

Patrulha do Macaco Especial - Academias de Letras

Sabe-se que a cultura brasileira tem muita influência da França. Minha área de formação, a História é tributária direta de um modelo francês do pensamento. Sem muita análise, num vapt-vupt rápido, posso lembrar de Le Goff, Marc Bloch, Braudel. Estendendo-se para outras áreas temos o grande Levy-Strauss,e por aí vai. Aliás muitos destes ajudaram a compor o quadro nascente da Universidade de São Paulo na década de 30, em um projeto que nasce da idéia de “avançar” em relação ao resto do Brasil “em atraso”, uma resposta doída (e meio pirracenta) para a derrota do levante paulista contra Vargas. Indo ao que interessa, em influência direta ou não os franceses nos legaram também modelos de instituições. Institutos, fundações, organizações foram criadas á moda francesa.

Atenho-me nessas linhas ao foco sobre as academias de Letras. Sendo a principal delas a Academia Brasileira de Letras. Essa célebre casa, se propõe por princípios, guardiã das letras e língua nacionais. Fundada ainda no século XIX por ilustres, dentre eles o meu favorito Machado de Assis. A coisa toda tem seus rococós e firulagens. Espadas, fardões e chá das cinco. Somos brasileiros, adoramos essas coisas: títulos, cerimônias, pompas, circunstancias. Quarenta cadeiras, com seus respectivos “imortais” ali representando o supra sumo cultural, nessa terra onde cada vez menos se lê. Fica na instância do ritual. Naquela coisa miúda de uma pseudo-elite que quer sentir-se “Europa” no meio dessa selva.

Á parte do meu cinismo e amargor para com instituições pomposas, o Brasil sempre precisou da idéia de modernidade. Cidades como São Paulo foram erguidas, e impulsionadas ao crescimento e a busca por uma tal “civilidade”, por conta disso. Não importando se velho e novo, se avanço e atraso, combinassem as equações numa realidade mista e cheia de significados. E dá-lhe belle-epoque nessas selvas tropicais de meu deus.

mas afinal que porra é essa?

O modelo lançado pela ABL espalhou-se pelo país. Muitos estados e cidades criaram suas versões. E nisso, oligarcas, quatrocentões, patronos e outros pilantras sempre gostaram de titulação, bajulação e reconhecimento. Não podemos esquecer também de outra palavrinha importante aqui: “Mérito”. Este que não tinha importância alguma se construído e sem base teórica alguma. Tudo torna-se uma orgia e onanismo vadio, sem eira nem beira. Uma pagelança frívola e sem significado. Vide o nosso “coronelato”, donos de inúmeras terras, da lei do cão, que nesses sertões adentro, nunca foram sequer militares. Se quiser dê uma volta pelo cemitério da Consolação e veja a ostentação post mortem em monumentos de pedra. Muitas vezes é necessário criar um reconhecimento para camuflar incompetências ou congelar imagens moldando uma realidade que nunca existiu. Dando celebridade num joguinho político mequetrefe.

Nas atualizações recentes em seus quadros a AAL (Academia Alagoana de Letras) empossou em uma de suas cadeiras o ex presidente, atual senador, e sempre caudilho Fernando Collor. Bom, nada me admira em um país sem memória. Nada me admira na terra do conchavo, até mesmo que alguém que nunca escreveu um livro receba tamanha “honraria”. Pois afinal o pai de nosso prefeito Pedro Kassab, também foi empossado na nossa versão paulista da Academia, não escrevendo nada senão receituários. Mas falar de morto e ainda mais imortal é mancada então, prefiro dar um outro foco ao assunto.
O buraco é mais embaixo. Não é a caracterização de instituições falidas, que se voltam a uma politicagem miúda para formarem um clube caquético de chá das cinco. Passou despercebido pela imprensa, mas são essas pequenas coisas que “consolidam” a imagem. É isso que ajuda marotamente a se dar base a construção de figuras “idôneas”. Por mais que o molde dessas academias seja falido e que seja um tiro no próprio pé. Acho triste. Não que me importe com o chá dos mortos vivos que acontece nessas terras. Mas por imaginar que vemos isso diante de nossos olhos e não conseguimos perceber e identificar os sinais. Nessas horas acho que não seria legal conhecer Machado de Assis. Gostaria apenas de dar um tapinha nas costas de Mário Quintana e dizer “não perdeu nada camarada”.

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